sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Ler Brandão

“Pela portinhola do comboio vou seguindo a PAIZAGEM de figueiras e de vinhas que desfila. De um lado o CÉO dourado e violeta, do outro todo roxo. Os nomes das estações TEEM um sabor a FRUCTO maduro e exótico – Almancil-Nexe, Diogal,  Marchil… de quando em quando fixo um pormenor: uma mulher passa na estrada branca, entre oliveiras pulverulentas e PHANTASMAS esbranquiçados de árvores, sentada no burrico, de guarda-sol aberto, e dando de mamar ao filho. Terras de barro vermelho. Grupos de figueiras anainhas estendem os braços pelo chão até ao mar, deixando CAHIR na água os ramos vergados de FRUCTO, que só amadurece com as branduras. Uma ou outra casinha reluzindo de caiada: ao lado, e sempre, a nora de alcatruzes e um burrinho a movê-la entre as leves amendoeiras em fila, as oliveiras d´um verde mais escuro e a alfarrobeira carregada de vagens negras pendentes. A MEZA de Deus está posta. Estradas orladas de CACTOS IMMOVEIS como bronze, e a deslumbrante Fuseta, com o seu zimbório entre árvores esguias. Ao longe, e sempre, acompanha-me o mar, que mistura o seu hálito a esta luz vivíssima.

(do livro “Os Pescadores” de Raul Brandão)

Nota: em maiúsculas, as palavras como se escreviam nos séculos 19 e 20.

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