Éramos
vizinhos. Todas as manhãs saíamos de nossas casas, à mesma hora.
Ela sempre antes, eu sempre a seguir; ela sempre à frente, eu sempre
atrás. De manhã, descíamos o monte em direção à estação
ferroviária, a cerca de mil metros. Menos de 500 metros até chegar
à linha, mais outro tanto pela linha fora. Pelo monte abaixo e pela
linha fora, eu a contemplava: os seus caracóis eram como um cesto de
flores que levava à cabeça e cujo perfume me inebriava! Os meus
olhos não se cansavam de ver flores nos caracóis que levava!
Não se cansavam de ir presos nos passos dela!
Na
estação de destino, eram multidões que saíam, outras que entravam
nos muitos comboios que chegavam de todos os lados e que partiam
para vários destinos. Era um tempo sem carros a motor. As ruas
ficavam inundadas de rapazes e raparigas que se misturavam e se
dirigiam às várias escolas, homens e mulheres que se dirigiam ao
trabalho. Só voltava a ver a dona do meu amor, quando ao fim do dia,
regressávamos a casa, pelo mesmo comboio, pelos mesmos caminhos. No regresso a casa
já não descíamos o monte da aldeia, subíamos o monte e
ela sempre à frente comigo logo atrás. Nessa hora, já não eram os caracóis dos cabelos dela que a
tornavam mais bela, era tudo o que a sua mini-saia
deixava ver! Era entardecer! Meu sonho algemado de pés e mãos e eu,
subíamos o monte. Eu tinha sede e a fonte se afastava! No dia seguinte tudo se repetia e nos outros dias e assim durante meses e anos até que um dia cada um apanhou o seu comboio com destinos diferentes!