terça-feira, 22 de julho de 2014

De outras vidas

(imagem Google)
Éramos vizinhos. Todas as manhãs saíamos de nossas casas, à mesma hora. Ela sempre antes, eu sempre a seguir; ela sempre à frente, eu sempre atrás. De manhã, descíamos o monte em direção à estação ferroviária, a cerca de mil metros. Menos de 500 metros até chegar à linha, mais outro tanto pela linha fora. Pelo monte abaixo e pela linha fora, eu a contemplava: os seus caracóis eram como um cesto de flores que  levava à cabeça e cujo perfume me inebriava! Os meus olhos não se cansavam de ver flores nos caracóis que  levava! Não se cansavam de ir presos nos passos dela!
Na estação de destino, eram multidões que saíam, outras que entravam nos muitos comboios que chegavam de todos os lados e que partiam para vários destinos. Era um tempo sem carros a motor. As ruas ficavam inundadas de rapazes e raparigas que se misturavam e se dirigiam às várias escolas, homens e mulheres que se dirigiam ao trabalho. Só voltava a ver a dona do meu amor, quando ao fim do dia, regressávamos a casa, pelo mesmo comboio, pelos mesmos caminhos. No regresso a casa já não descíamos o monte da aldeia, subíamos o monte  e ela sempre à frente comigo logo atrás. Nessa hora, já não eram os caracóis dos cabelos dela que a tornavam mais bela, era tudo o que a sua mini-saia deixava ver! Era entardecer! Meu sonho algemado de pés e mãos e eu, subíamos o monte. Eu tinha sede e a fonte se afastava! No dia seguinte tudo se repetia e nos outros dias e assim durante meses e anos até que um dia cada um apanhou o seu comboio com destinos diferentes!